domingo, 19 de junho de 2011

uma carta sem destinatário!

Paredes brancas construídas do sofrimento. Sólidas, mas ao mesmo tempo tão frágeis, a um sopro de desmoronarem. Olho ao meu redor e vejo o branco. O branco da solidão. Algumas rachaduras pouco visíveis e algumas manchas amareladas também fazem parte do cômodo. Num canto, a cama com os lençóis empoeirados e uma manta amarrotada. No outro canto, uma cadeira manca e uma escrivaninha velha cuja tinta está descascando. Em cima dela uma luminária que quase não emite luz, uma folha de papel borrada e uma caneta. Pergunto-me como pode o vazio ser considerado insignificante. Significa bastante quando se está preso em quatro paredes, acompanhado de um branco solitário e mais solidão. Vazio no branco, vazio nas paredes, vazio no cômodo, vazio no coração. A caneta desliza pela folha levianamente emitindo um ruído – ou talvez o ruído venha dos meus pensamentos. Deslizo a caneta pelas linhas borradas, escrevendo – ou, talvez, apenas rabiscando – algo que meus olhos não conseguem captar. Continuo riscando a folha, assim, neste mesmo padrão de inconsciência, quase involuntariamente. Minha fiel companheira, Solidão, fora a única que permanecera aqui comigo. O Frio, que pertence à sua família, está aqui também. Ele é bastante eficiente quanto a seu objetivo, posso dizer-lhe que sempre o alcança; ele poderia estar tocando minha superfície neste momento, arrepiando minha penugem, me dando calafrios na espinha, porém, eu não faria idéia. Sinto-o internamente, dentro, dentro e dentro de mim – no coração. Petrificado meu coração, esbranquiçado tudo ao meu redor, decreto solidão até o fim da minha vida. Os meus fiéis companheiros eu sei que jamais me abandonarão, com o Frio no peito deitarei no leito da Solidão.

Solidão ...

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